As vanguardas: rupturas com os cânones das artes e da literatura

As vanguardas artísticas: rupturas com os cânones das artes e da literatura
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O movimento modernista desenvolveu-se nos inícios do século XX a partir da Europa e em cidades cosmopolitas e com forte movimentação cultural como Paris, ponto de encontro das vanguardas culturais da Europa e do mundo. Reagindo contra o classicismo naturalista e o paradigma romântico e conformista do século XIX os movimentos artísticos vanguardistas procuraram exprimir um intimismo de raiz psicológica matizado com a visão relativista dos fenómenos e da realidade.



Nova estética influenciada pela psicanálise, a psicologia e o pensamento relativista desfigurando a realidade e admitindo visões alternativas:  

Fauvismo 1904 Paris- Matisse, Derain, Rouault. Arte infantil, ingénua e alegre que utiliza cores agressivas e imagens deformadas. 

Expressionismo1905 Dresden- Van Gogh, 
Munch, Kirchner- sobrevalorização do Eu e das angústias da existência, dramatismo na utilização de tons fortes e ambientes pesados onde o pessimismo está presente rejeitando o classicismo romântico.

Van Gogh
Munch
Cubismo analítico 1908 até 1912 - Braque, Picasso, Juan Gris. Decomposição do espaço tridimensional e geometrização multidimensional da realidade. Os objectos expõem várias facetas do Eu simultaneamente atingindo uma essência.   
Picasso 
Cubismo sintético - reagrupamento do objecto reagindo contra a decomposição extrema a que os analíticos tinham chegado em 1911. Simplificação das formas e agregação de materiais ou justaposição na composição de objectos toscos com intuito simbólico, agrupados de acordo com uma ideia essencial que remete para o sentido da obra. Braque. Gris, Leger, Delaunay. Guernica foi das últimas pinturas cubistas de Picasso. 
Braque 
Futurismo 1909 Itália - Marinetti. Rejeição do passado e glorificação do futuro. A máquina e a velocidade como fonte de inspiração. O mundo industrial e a guerra, o dinamismo e o movimento.
Marinetti
Abstraccionismo sensível ou líricoKandinsky, 1910– baseado no expressionismo distinguiu-se pelas cores vivas, pelo apelo ao inconsciente, onírico e intuitivo. Combinação de formas e cores.
Kandinsky
Cubismo sintético depois de 1912 - a não decomposição do objecto numa imagem que sintetiza as suas características, muita cor

Neoplasticismo ou Abstraccionismo geométrico –  Piet Mondrian, geometrismo 1917 – Holanda pintura limpa geométrica, ordenada e desprovida de acessório e inutilidades, figuras geométricas elementares que exprimem uma função social da arte como realidade pura desprovida do  inessencial.
Mondrian
Dadaísmo 1916 Suiça- Tzara, Hans Harp. Denúncia da sociedade desprezo da guerra e da arte que é reflexo da obra dos homens. Chocante e obsceno para agitar a sociedade, subversão sem sentido retrato do próprio mundo. O ilógico, acaso, absurdo. 

Surrealismo – 1924 Paris- Breton, Magritte, Dali. aparecido na literatura, o surrealismo projectava o inconsciente e onírico na obra de arte explorando o psiquismo dos autores. Terreno de divagação de várias correntes técnicas o surrealismo sublinhava o retrato do mundo inconsciente dos sujeitos.Salvador Dali
Magritte
Literatura 
Todo o período das primeiras décadas do século XX foi marcado por uma inovação acentuada ao nível da literatura que pôs em causa os valores e as tradições literárias com uma grande variedade de temas e estilos semelhante à que percorreu as artes plásticas. 
Os escritores procuraram libertar-se da expressão da realidade concreta adoptando percursos comprometidos com a psicanálise, e a vida interior das personagens. As obras literárias tornam-se tributárias da expressão de desejos, recalcamentos e emoções intensas, longamente descritas por vezes em intermináveis discursos monocórdicos. É o caso da obra de Marcel Proust, Em busca do Tempo Perdido editado em 1913. 
Desta época são também André Gide que proclama a liberdade do sujeito e a rejeição de regras e convenções sociais. 
A mudança dá-se ao nível do tema mas também da forma, da linguagem e da construção frásica como no caso dos poemas caligramados de Apollinaire, dos dadaístas dos surrealismos de Eluard ou Breton. Também é desta época Ulisses e Finnegans Wake de James Joyce romances imbuídos de intimismo e um confronto obsessivo entre as memórias e o mundo presente. 
Caligramas de Apollinaire 

Em Portugal
O início do século XX é marcado em Portugal pela permanência do naturalismo nas artes plásticas (Malhoa, Columbano, Carlos Reis, Alberto de Sousa) protegido e apreciado mesmo pela burguesia republicana. A partir de 1911, as mudanças políticas alteram o panorama cultural e imprimem uma dinâmica de mudança a todos os níveis da arte e da cultura. O cosmopolitismo e a renovação do espírito e da visão do mundo baseou-se numa visão crítica dos valores e gostos da burguesia impondo o racionalismo e o geometrismo que no estrangeiro se vinha afirmando há vários anos. É o primeiro modernismo. 

1º Modernismo 
Marcado por artistas como Almada Negreiros, Stuart Carvalhais, Jorge Barradas, Amadeu de Souza Cardoso ou António Soares. Em vez da volumetria adopta-se o plano e traçado geométrico e esquemático. Temas de sátira política, social e anticlerical. Ambientes urbanos e retratos psicológicos, esbatimento de perspectiva em duas dimensões, cores claras e garridas, simplificação das formas. A 1ª Guerra fez regressar a Portugal, Santa Rita pintor, Eduardo Viana, Amadeu de Souza Cardozo.
Em Lisboa surgiu a revista Orpheu com Almada Negreiros, Santa Rita, Pessoa, José Pacheco e Sá-Carneiro adoptando a tendência nascente do Futurismo. No Porto Eduardo Viana, Souza Cardoso e Delaunay. 
Jorge Barradas 
Stuart Carvalhais

O Futurismo adaptou-se ao dinamismo cultural republicano. Rompendo com o passado e a tradição, o imobilismo e saudosismo exaltava-se a raça latina, o orgulho, a acção e o movimento. O manifesto Anti-Dantas foi um documento marcante reagindo contra as críticas que provinham das facções culturais mais conservadoras. Em 1917 surgiu o Ultimatum futurista às gerações portuguesas no século XX e o número único da revista Portugal Futurista com pinturas de Amadeu, Almada, Santa Rita e textos de Pessoa, Sá Carneiro, Marinetti e outros. 
2º Modernismo 
Jorge Barradas 
Nos anos 20 a 30 decorreu a vaga de segundo modernismo. 
José Régio, João Gaspar Simões, Adolfo Casais Monteiro como escritores e pintores como Almada Negreiros e Eduardo Viana, Dórdio Gomes, Mário Eloy, Carlos Botelho, Sarah Afonso, Abel Manta, Vieira da Silva, revistas Presença e Contemporânea, Ilustração Portuguesa, Domingo Ilustrado, ABC, Ilustração, Sempre Fixe. A oposição dos sectores conservadores e do governo manteve-se por isso os artistas procuraram impor-se em locais como cafés, clubes e exposições individuais.  
António Pedro será uma figura importante no grupo surrealista português nascido em oposição à cultura do Estado Novo. Organizou a exposição dos Artistas Modernos Independentes reagindo contra a tentativa de arregimentação dos modernistas portugueses que António Ferro, na altura director do Secretariado da Propaganda Nacional tencionava fazer. 
Amadeu de Souza Cardoso

Rumou a Paris desde cedo procurando na pintura a realização como artista. Encontra-se com Delaunay e outros  como Juan Gris e Modigliani participando em exposições célebres como o Armory Show de Nova Iorque. Regressa a Lisboa em 1914 e encontra a resistência dos sectores mais tradicionais. Participa nas revistas Orfeu e Portugal Futurista. Experimenta todas as tendências desde o cubismo ao dadaísmo passando pelo expressionismo e futurismo. Morreu de pneumónica em 1918. 








Almada Negreiros 


Foi o mais destacado e conhecido dos modernos. Saíu do Colégio de Jesuítas de Campolide. Inicia-se no campo da pintura e participa no salão dos Humoristas de 1912. Desenvolve com Pessoa o Orpheu e Portugal Futurista desenvolvendo actividade literária em textos de intervenção, panfletos, poemas e novelas como o Manifesto Anti-Dantas. Em 1919 vai para Paris, regressa e desiludido parte para Madrid onde desenvolve a técnica do Mural até 1933. Em 1954 pinta o retrato de Fernando Pessoa. Morreu em 1970. 


Eduardo Viana
Foi dos nomes destacados da segunda fase do modernismo português. Em 1905 partiu para Paris com Manuel Bentes procurando actualizar-se no convívio com os pintores da moda. Viaja pela Europa e conhece a pintura de Cézanne que o influencia. Regressa em 1915 com os Delaunay e fixa-se no norte onde desenvolve a sua técnica. Aborda o cubismo matizando-o com cores alegres e cheias de luz. Regressa à figuração volumétrica que sempre o marcou com um toque oitocentista contrariado apenas pelo império da cor. 




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